
Abre a porta e entra. Como se fosse um ritual sagrado retira delicadamente peça por peça a roupa que usa. Adentra as portas de vidro do seu, recém comprado, Box. Respira. Liga o registro. Pensa como é bom o leve peso da água sobre a cabeça e quão deliciosa é sensação da mesma escorrendo pelo pescoço, braços e colo, barriga, coxas, canelas e pés. Sente-se limpa, nova, renovada. O shampoo tem cheiro amadeirado e efeito refrescante. Quase que de imediato, extasiada com as fragrâncias que sobem as narinas, olha por entre a janela e lá está, a copa dos pinheiros a dançar no ritmo da brisa de um final de tarde de céu laranja. O Sol já se despede e ela se encontra ali no mesmo lugar, no seu recanto de paz. Por uma fração de segundos, não há mais, por de trás da porta. Filhos, marido, trabalho, sumiram. Só existe a água, que ainda corre pelo corpo, o shampoo amadeirado, os pinheiros a danças sob um céu laranja e ELA. Se pergunta se o mundo é dela ou se ela virou o mundo. Os segundos se arrastam deliciosamente, agora, além do corpo, a alma está limpa, nova, renovada. Apressa-se a se desligar daquele mundo, daquele momento, pois os seus já a chamam na porta. Há camas a arrumar, tarefas a fazer e um outro mundo a viver. Seca-se. Passa cuidadosamente, em todo corpo, sua loção pós-banho e, também amadeirada que, não a deixa esquecer do descompromissados pinheiros a balançar. Se imagina sendo um pinheiro daqueles e consegue até sentir a brisa nos cabelos. Abre os olhos. Respira. Abre a porta e volta para o mundo deles.
"Um desabafo de liberdade"
Até!
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